

A Arte Drag
por Vitor de Almeida. 17/09/2018.
Uma breve
contextualização
Drag queen. Essa forma de arte teve o auge de sua popularidade em todo o mundo nos anos 90 e acabou saindo dos holofotes por alguns anos. RuPaul, considerada uma das drags mais famosas do mundo, colocou novamente a expressão artística em alta, através de seu reality show RuPaul’s Drag Race, atualmente na produção de sua 11ª temporada. No Brasil, a cantora drag queen Pabllo Vittar revolucionou o cenário musical, lançando músicas que ficaram famosas internacionalmente e a colocando na lista dos 50 artistas mais influentes do mundo pela Billboard.
Apesar da alta na mídia, não é de hoje que homens se transformam em mulheres como expressão artística. Séculos atrás, na Grécia Antiga, quando surgiu o teatro, homens representavam papéis femininos nas peças utilizando vestidos, uma vez que não era permitido que as mulheres atuassem. Entretanto, não podemos nos limitar. A arte drag vai muito além dessa definição simplória de homens vestidos com roupas associadas ao gênero feminino. O conceito de drag queen como uma expressão artística associada à cultura LGBTQIA+ teve sua origem nos Estados Unidos, nos anos 30, quando bares voltados para LGBTQIA+ começaram a surgir no país. Gays viram a performance drag como uma forma de entretenimento e profissão, e, assim, surgiam as drag queens como as conhecemos.
As performances de drag queens, desde sua origem, até os dias atuais, envolvem música, dança, comédia, interpretação e moda, sempre carregadas de um discurso crítico, político e transformador, o que torna a arte drag uma das mais completas formas de expressão cultural.

LINHA DO TEMPO
500 A.C: Na Grécia Antiga, o teatro tomava forma e nasciam os primeiros atores e personagens. Com uma cultura e organização social extremamente patriarcais, as mulheres da Grécia não podiam participar dos debates públicos e políticos. Podiam ir a festas religiosas e assistir a peças teatrais, nas quais os personagens femininos eram representados por homens vestidos como mulher.
1500: Nasce William Shakespeare, em Stratford-upon-Avon, na Inglaterra, que viria a se tornar o mais influente dramaturgo do mundo. Em suas peças, os papéis femininos eram interpretados em grande parte por meninos vestidos como mulher.
1700: Com a mudança do papel da mulher na sociedade, sua presença no teatro tornou-se mais forte. Os atores homens que se vestiam como mulher passaram a integrar as peças mais voltadas para a comédia e sátira, com figurinos e maquiagens extravagantes.
1900: As Grandes Guerras Mundiais transformaram de vez a posição social da mulher e, também, das drag queens. Com a era da televisão, o teatro virou um espaço de glamour, fazendo as drags assumirem uma nova postura, mais próxima do atual conceito de diva.
1960: Explode a cultura pop nas cidades e com ela a ascensão da cultura LGBTQIA+. Na época, os bares e clubes gays ainda eram um submundo, localizados em zonas periféricas. Marginalizadas, foi nesse cenário que as performances drag evoluíram.
1970: Na Rebelião de Stonewall, também conhecida como o início dos movimentos de reivindicação de direitos da comunidade LGBTQIA+, muitas drag queens participaram das manifestações e continuaram lutando por direitos nos anos seguintes.
1980: Anos difíceis para as drags. Apesar de transformarem-se em verdadeiros símbolos de luta e resistência, com o surgimento da AIDS, o preconceito e barreiras da sociedade avançaram mais uma vez, limitando as artistas novamente aos clubes gays.
1990: O longa autraliano “Priscilla, a rainha do deserto”, sucesso de bilheterias, deu vida nova às drag queens. Hollywood jogou gasolina na chama e surge a drag queen diva: modelo, cantora, apresentadora, socialite e influente. RuPaul foi a primeira de muitas que viriam. Drags voltam a ser ícone de luta e popularizam as paradas gay pelo mundo.
2000: Na era da Internet, a cultura drag ganha destaque como nunca antes. Drags começam a dominar a televisão, o cenário musical, as festas e viram verdadeiras artistas pop, consagradas não só pela comunidade gay mas por um público cada vez mais abrangente.
2010: Artistas drag consolidam seu posto no cenário pop. RuPaul’s Drag Race alavanca a popularidade drag, com 10 temporadas do reality show já lançadas. Pabllo Vittar estoura nas paradas musicais no Brasil e no mundo, abrindo alas para mais artistas se lançarem na música.

Uma origem
incerta
A origem do termo drag queen é nebulosa. O primeiro registro data do ano de 1870, para se referir aos atores homens que se vestiam como mulher. O fato é que o termo se popularizou como uma gíria da subcultura gay britânica no início do século XX. Atualmente, “drag” foi adaptado para um acrônimo: “DRessed As Girl”, em tradução livre, “vestido como garota”. Existe também a teoria de que o termo se originou do verbo em inglês “to drag”, que significa “arrastar”, e seria uma alusão às saias da época, que eram longas e se arrastavam pelo chão. Outras possibilidades apontam, ainda, para o teatro elisabetano (produzido durante o reinado de Elisabeth I da Inglaterra, de 1558 a 1603, tendo como seu grande expoente Shakespeare). O termo “queen” viria da gíria “quean”, usado para se referir a prostitutas.
Uma escalada
ao topo
Atualmente, a drag queen mais famosa do mundo é RuPaul. RuPaul Andre Charles, de 57 anos, é, além de drag queen, ator, diretor, modelo, autor e cantor. Nascido em San Diego, Estados Unidos, Rupaul começou a se montar nos anos 80. Participou de produções cinematográficas underground, criando filmes de baixo orçamento, dentre eles, o destaque "RuPaul Is: Starbooty!", que rendeu o lançamento de seu primeiro álbum, homônimo ao filme, com 8 faixas.
No final daquela década trabalhou como figurante no clipe da música “Love Shack”, da banda The B-52’s, onde teve sua primeira exposição mundial como drag queen. Já nos anos 90, RuPaul explodiu como celebridade, atuando em diversos clipes, programas de TV, programas humorísticos, filmes, gravou diversos discos e produziu trilhas sonoras.
Sua consolidação como maior estrela drag se deu em 2009, quando estreou o reality show televisivo RuPaul’s Drag Race, produzido pela World of Wonder no canal Logo TV e, a partir da nona temporada, VH1. No reality, drag queens competem entre si em diversas provas que incluem atuação, canto, dança, costura e outros desafios, em que RuPaul é a juíza suprema. O programa cativou fãs em todo o mundo e se tornou um marco na história da arte drag, lançando novos talentos mundialmente em cada temporada.

CITAÇÃO
“A grande revolução que eu vi nas drags foi a audiência, as pessoas realmente entenderem o que é ser drag. Ser drag é lembrar que não devemos levar a vida muito a sério, temos que nos divertir. Imaginem um mundo com todas as cores de uma caixa de giz de cera. É isso.”
- RuPaul Andre Charles
CINCO CLÁSSICOS DO CINEMA DRAG
1 Priscilla, a rainha do deserto (1994)
Dirigido por Stephan Elliott, o longa é um dos maiores clássicos de temática drag. No filme, duas drag queens e uma transexual são contratadas para fazer um show em um resort isolado no meio do deserto australiano. O trio parte a bordo de um ônibus, batizado de Priscilla, que acaba quebrando no meio da viagem.
2 Para Wong Foo, Obrigada Por Tudo! Julie Newmar (1995)
A comédia de Beeban Kidron, apresenta três drag queens que viajam de carro pelos EUA e são presas em uma cidade pacata do interior, onde acabam revolucionando o local e a vida dos moradores.
3 The Birdcage – A Gaiola das Loucas (1996)
Com direção de Mike Nichols, o filme retrata o dono de um clube noturno de drag queens, que também namora uma das estrelas da casa. As confusões começam quando seu filho decide se casar com a filha de um senador conservador, que decide conhecer sua família.
4 Ninguém é Perfeito (1999)
Comédia dramática dirigida por Joel Schumacher. No longa um ex-segurança conservador recebe um golpe que o deixa com paralisia parcial do corpo. Na reabilitação, ele começa a ter aulas de canto com um artista que mora no apartamento de cima, Rusty, uma drag queen.
5 Kinky Boots – A Fábrica de Sonhos (2005)
Nesse filme, dirigido por Julian Jarrold, uma família que tira seu sustento da produção de sapatos tradicionais vê suas vendas diminuírem muito. À beira da falência, o dono da fábrica contrata a drag queen Lola como consultora criativa e ela revoluciona a marca.
Uma conquista
nacional
O ano de 2017 foi um marco no cenário drag nacional. Com o estouro da música “Todo Dia”, de Pabllo Vittar, como uma das músicas temáticas do Carnaval no ano, diversas outras artistas também já conhecidas, viram sua carreira decolar. Na música, Gloria Groove, Lia Clark e Aretuza Lovi se juntaram a Vittar como artistas mais ouvidas nas rádios e plataformas de streaming. Na televisão, diversos programas e novelas apresentaram artistas e evidenciaram a temática trans.

CURIOSIDADE
Pabllo Vittar ultrapassou, em 2017, o número de seguidores de RuPaul no Instagram. Atualmente, com mais de 7 milhões de seguidores, a cantora é a drag queen mais seguida do mundo na rede social.

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