
Museu de Arte Murilo Mendes:
Missão de Preservar
por Vitor de Almeida. 20/11/2018.

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O Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) deu início à digitalização do seu acervo. Tendência entre as maiores instituições culturais do Brasil e do mundo, a digitalização visa a preservação dos acervos e a facilitação do seu acesso via formas alternativas à exposição física. Ricardo Cristofaro, doutor em Poéticas Visuais, professor do Instituto de Artes e Design da UFJF e diretor do Museu disse que o projeto é extenso e não tem prazo para término, pois “será uma missão constante do museu, não só ter o acervo bibliográfico digitalizado, mas também o acervo de obras de arte, documentos e fotografias”.
Diversos são os benefícios que a digitalização trará para o MAMM, para Juiz de Fora e para a sociedade, tanto quando falamos das pessoas interessadas em conhecer o acervo, quanto para os pesquisadores e a comunidade científica. Em primeiro lugar, tem-se a preservação do próprio acervo físico. Cristofaro explica que “se você pode ter acesso a um documento digital, isso auxilia na conservação, pois permite maior controle de climatologia, por exemplo, preservando um documento que, se for constantemente manuseado, pode se desgastar com o tempo”. Considerando o teor raro e único da biblioteca que pertenceu a Murilo Mendes, sua preservação é uma das prioridades do Museu.

A Biblioteca Murilo Mendes
Junto com a preservação do acervo físico, também é contemplado outro fator de interesse público: a garantia de perenidade da informação. Ainda que os cuidados sobre o arquivamento e a conservação dos livros e documentos do acervo sejam muitos e minuciosos, a possibilidade da perda ou dano desses documentos por situações imprevisíveis não pode ser descartada. Inclusive, a própria casa de Murilo Mendes em Portugal foi alvo de um incêndio, no qual sua viúva Maria da Saudade Cortesão Mendes disse terem sido perdidos muitos documentos e obras. Com a digitalização, ainda que haja a perda de algum documento físico, haverá sempre a possibilidade de sua consulta através da cópia digital.
Entretanto, as diversas formas de preservação não são os únicos benefícios do projeto. Dentro de um contexto que começa a acontecer ainda no século passado, a tecnologia digital promove na cultura globalizada a possibilidade de um pesquisador não precisar se deslocar até o museu para acessar um documento ou obra rara, fato de extremo interesse para a comunidade científica. O diretor do museu ressalta que “a perspectiva futura é de disponibilizar, através de cadastros, essas informações a partir de um acesso remoto, facilitando ao máximo que essas informações, esses documentos, esse acervo, possam manter-se públicos”.

Bolsista realiza a digitalização do acervo único da Biblioteca
A Biblioteca Murilo Mendes
Murilo Monteiro Mendes, nascido em 1901, é um consagrado poeta e prosador brasileiro nascido em Juiz de Fora. Fez parte do Segundo Tempo Modernista, sendo representante da geração de 1930. Casou-se com a portuguesa Maria da Saudade Cortesão e não teve filhos. Faleceu em 1975. Foi um poeta premiado que lecionou Literatura Brasileira em Lisboa e Roma. Faleceu em Lisboa, Portugal, deixando uma biblioteca extensa e de valor inestimável. O site do Museu apresenta uma timeline detalhada sobre a vida do poeta.
Murilo doou seus livros de língua portuguesa para a Universidade de Roma e os livros de língua estrangeira para a UFJF. De acordo com a cartilha do Museu, são cerca de três mil exemplares que compõem a Biblioteca de Murilo Mendes do MAMM e que contemplam as cinco áreas de seu interesse: Artes Plásticas, Literatura, Religião, Música e História. Lucilha de Oliveira Magalhães, graduada em História pela UFJF e especialista em Organização de Arquivos atua na Biblioteca do MAMM e explica que a grande maioria do acervo é de Literatura e são considerados livros raros, uma vez que “Murilo possuía uma metodologia de trabalho e de leitura muito própria, fazendo no final dos livros um índice remissivo, com o número da página e o assunto que ela aborda. Ao consultar a página, você encontra marcações, que podem ser sinais discretos e pequenos comentários ou até contestações que ele fazia sobre o assunto”. Essas anotações de Murilo nos livros são denominadas marginálias e são objeto de estudo de pesquisadores no Brasil e no mundo.

Anotações transformam os livros do acervo em relíquias para pesquisa.
Além dos livros que Murilo Mendes acumulou durante sua vida, a Biblioteca também possui correspondências que ele trocava com seus amigos, colegas de profissão e outras pessoas com as quais se relacionou. O projeto de digitalização começou justamente por esse arquivo. Lucilha diz que “não é um conjunto imenso, mas é muito representativo”.
O acervo contempla cartas que Murilo escreveu para sua irmã, Virginia Mendes Torres, que morava em Juiz de Fora; correspondência para Vieira da Silva, artista plástica com quem fez amizade no Rio de Janeiro quando ela veio da Europa fugindo da guerra; cartas para seu primo Genaro Vidal, que cuidava de suas finanças, venda e compra de dólares e compra de obras de arte; correspondência para o crítico literário Antonio Candido e diversos outros escritores e poetas.
Formado em Artes e Design pela UFJF e também funcionário do MAMM, Washington Antônio da Silva observa que é um conteúdo bem interessante: “São cartas poéticas, superbonitas. É um material único. Antes, quem tinha uma biblioteca detinha muito poder. Com as novas tecnologias que os museus e bibliotecas têm passado a incorporar, surge a possibilidade de tornar os acervos mais acessíveis. Hoje podemos ter esse conhecimento na palma da nossa mão, se quisermos”.

Cartas e correspondências compõem o acervo único do MAMM